Novo complexo industrial pretende reunir cerca de 15 fábricas no município de São Gonçalo e provar definitivamente que não é só do setor naval que vive a indústria fluminense
Nos próximos 18 meses pelo menos 4 mil empregos serão criados. O Complexo Industrial de São Gonçalo (Ciesg), nova zona industrial, já tem garantidas 15 empresas de vários ramos, inclusive da área farmacêutica e de produtos médicos. O investimento planejado está na ordem de 376 milhões até 2015.
Para garantir o escoamento da produção, as empresas e o poder público se aliaram para melhorar a infraestrutura da região com transporte, segurança e pavimentação. Todo esse progresso acontece em uma área carente da cidade, o bairro de Guaxindiba, que fica à margem da rodovia BR-101,
O local foi escolhido a dedo. O terreno plano de 7,5 milhões de metros quadrados abrigou de 1932 a 1986 a fábrica de cimento Mauá, que tinha instalações ferroviárias e canal de navegação próprios.
O parque conta com a instalação das empresas Aliança, B.Braun, Kerneos, Brasco, Siriso, Jotun, R.C. Vieira, Logshore, Grupo Votorantin, Schulz, Chryso, Parex e BR – Petrobras.
A subsecretária de desenvolvimento econômico do Estado do Rio de Janeiro, Renata Cavalcanti, disse que o Governo do Estado avalia de forma positiva a iniciativa dos empresários locais de criar um distrito industrial, que já nasce como uma grande empresa como âncora, a B. Braun.
“São Gonçalo merece ter de volta dinamismo econômico e o polo é um grande passo nesse sentido. Outras importantes alavancas da atividade econômica local serão o Arco Metropolitano e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj)”, enumera.
Para ela, a recuperação do Rio de Janeiro está atrelada à recuperação dos municípios da Região Metropolitana, com destaque para São Gonçalo.
“Em 2008, o município, com cerca de um milhão de habitantes, apresentava receita pública per capita de R$ 454,97, a menor entre as cidades fluminenses e a terceira menor do Brasil”, revela.
Já o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia de São Gonçalo, Adolpho Konder, garante que a cidade vai se beneficiar do Ciesg mas explica que o papel da Prefeitura será o de facilitador para a chegada do desenvolvimento.
“A Prefeitura vai investir na infraestrutura do bairro e facilitar o licenciamento das empresas, mas o projeto prevê ainda a instalação de escolas de qualificação profissional, que vão permitir que a mão de obra local seja absorvida”.
Ele disse ainda que a Prefeitura de São Gonçalo e o Governo do Estado planejam, juntos, questões como transporte, pavimentação e segurança.
“As empresas querem que o município faça melhorias na região e estenda às empresas do Ciesg benefícios fiscais praticados em outras áreas da cidade, como a redução da alíquota de 5% do Imposto sobre Serviços (ISS)”, revela Konder.
“A ideia é ocupar toda a área que será integrada ao Porto através de uma estrada de 25 quilômetros, que ligará a cidade ao Comperj”, planeja.
Renovação – Apesar da tradição naval e petrolífera do Estado, o maior investimento programado vem do setor de fármacos e equipamentos médicos, através da B.Braun.
O gerente de engenharia e gestão ambiental da B.Braun, Cláudio Carraro, estima que apenas a empresa gere mais de 1,1 mil empregos diretos ao final de todas as fases do projeto e 300 indiretos para serviços de apoio.
A empresa planeja R$ 230 milhões na estrutura de aproximadamente 80 mil metros quadrados, que já está em construção no terreno de 200 mil metros quadrados adquirido.
“No local serão fabricados dispositivos e equipamentos médicos. O parque industrial contará com um Centro Logístico, uma fábrica de Dispositivos Médicos e um novo Centro Administrativo”.
Infraestrutura – O estaleiro Aliança apostou na região e constrói uma fábrica de calderaria pesada para apoio à indústria naval. Apenas a obra gerou 250 empregos diretos.
Já a Logshore, Empresa de armazenamento e cargas naval e offshore, investiu, em dois anos e meio cerca de R$ 35 milhões em melhorias de acesso ao longo da via e pretende ampliaras instalações atuais que ocupam 400 mil metros quadrados, com R$ 18 milhões em novos investimentos.
A Siriso, companhia de participações e investimentos imobiliários, investiu R$ 8 milhões em obras de infraestrutura e a Kerneos, vai aplicar R$ 2 milhões, por ano, nos próximos cinco anos na modernização das suas instalações.
Capacitação – Para o diretor da Logshore, Renato Temperini, grande parte das oportunidades oferecidas pela empresa são para jovens de 20 a 23 anos em situação de primeiro emprego.
“Preferimos treinar nossos funcionários. Hoje, o salário médio de um rigger, que é o profissional responsável por movimentar as cargas no armazém, fica na faixa de R$ 1,2 mil, além dos benefícios como assistência médica e odontológica”.
Água – Temperini explica que, embora mal urbanizada e sem água encanada, a área já possui gás canalizado e fibra ótica, além de energia elétrica.
Em março os empresários se reuniram com o vice-governador Fernando Pezão, secretário de Obras do Estado, que prometeu agilizar o abastecimento de água para a região, o que vai beneficiar também os 40 mil habitantes do entorno.
O loteamento foi projeto de Ricardo Campos, diretor da Sirisa Participações e Investimentos, e já havia sido aprovado pela Prefeitura quando surgiu a notícia da instalação do Comperj. Ele se associou a um investidor francês e outra área, de 5 milhões de metros quadrados, foi comprada por um investidor da capital fluminense.
História, revitalização e valorização imobiliária
O Complexo Industrial e Empresarial de São Gonçalo (Ciesg), que fica em Guaxindiba, revitaliza o passado industrial da cidade, que já foi considerada a Manchester Fluminense e abrigou uma das maiores fábricas de cimento do País, a Companhia Nacional de Cimento Portland Mauá (CNCPM).
A corrida industrial em São Gonçalo começou em 1925, com a chegada da Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas (CBUM). Com o tempo, a usina foi incorporada ao grupo Hime que, além da fundição e da cerâmica, produzia fósforos da marca Sol, na Companhia Brasileira de Fósforo.
Em dezembro de 1937, foi fundada a “Tarragó, Martinez e Cia Ltda”, futura indústria de conservas de peixe Coqueiro. A troca de nome deveu-se à mudança do ramo de negócio. A primeira atividade desta indústria era a manipulação de tamarindo. Porém, ao mudar para o ramo de peixes, a empresa teve que atualizar a razão.
A nova empresa prosperou e a marca Coqueiro projetou-se nacional e internacionalmente. Em 1973, o Grupo Quaker comprou a fábrica e consolidou a marca Coqueiro, além de ampliar sua tradicional liderança no mercado.
Renato Temperini comemora a revitalização contando que a área estava abandonada e era usada para desova de cadáveres e carcaças de automóveis. Para ele, com a instalação do complexo, a população do entorno vai ganhar não só oportunidades de trabalho e de desenvolver novos empreendimentos, mas também com a valorização da região.
“Uma pesquisa feita pelo Ciesg com o mercado imobiliário mostrou que o metro quadrado, que custava pouco mais de um real há cerca de cinco anos, hoje é negociado entre R$ 150 e R$ 350”.
O FLUMINENSE