'Impacto da crise em pobres é ainda maior'

Queda no crédito aos países em desenvolvimento, no preço das commodities e nas remessas de emigrados é a causa, aponta estudo
RENATA D´ELIA 
da PrimaPagina 

“A crise econômica mundial só aconteceu devido à supervisão inadequada dos bancos e mercados financeiros. As medidas cautelares recomendadas aos países desenvolvidos foram ignoradas, e agora, nenhuma nação está livre dos efeitos negativos. Mas o impacto sobre os países em desenvolvimento é ainda maior”. A conclusão vem do relatório “A crise financeira e seu impacto nos países em desenvolvimento”, divulgado em abril pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (CIP–CI), uma instituição de pesquisa e treinamento do PNUD em parceria com o governo do Brasil.
O que facilita a transmissão da crise para os países mais pobres, diz o estudo, é a reversão de três fatores que ajudaram o boom econômico de 2003 a 2007: o elevado número de financiamentos do período – com muito dinheiro privado –, o alto preço das commodities, e o enorme fluxo monetário remetido por trabalhadores emigrados para seus países de origem. Com esses três aspectos agora caminhando na direção oposta, o ciclo de crescimento dos países em desenvolvimento também se reverte, diz o trabalho dos economistas Diana Alarcon, Stephany Griffith-Jones e José Antonio Ocampo.
A queda contínua desses fluxos de capital e das exportações, para os estudiosos, é a grande vilã dos países subdesenvolvidos, que aderiram a sistemas macroeconômicos bastante rígidos nos últimos anos. Em algumas nações muito dependentes do dinheiro de remessas, o efeito foi devastador. Alguns exemplos são o Tajiquistão, onde 45% do PIB provêm das remessas de cidadãos emigrados, Honduras (25% do PIB) e Líbano (24% do PIB). Desde 2008, os índices de remissão já caíram entre 1% e 6% em diferentes países.
Exportadores de produtos manufaturados e serviços como o turismo também sofreram com a diminuição da demanda, enquanto a volatilidade dos preços afetou as exportações de bens primários. Em países como Congo, Guiné Equatorial, Gabão e Nigéria, o petróleo (que teve acentuada queda de preço) é responsável por mais da metade da exportação de commodities. Na Guiné e na Costa do Marfim, a venda de cacau e de minerais representam um quinto dos rendimentos nacionais. Em Trinidad e Tobago e na Bolívia, a venda de commodities representa, respectivamente, 22% e 12% do PIB. As projeções mais recentes do Banco Mundial indicam redução de 25% nos preços de energia em 2009, além do declínio de 23% nos preços das demais commodities.
Ainda segundo o estudo, o acúmulo de reservas internacionais e a redução da dívida externa deve proteger alguns países em desenvolvimento da rápida deterioração do fluxo de capitais. Mas a contração de crédito e seu alto custo já causaram redução de investimentos aos sistemas financeiros da Índia e de Taiwan, ao passo que Brasil e México sofrem perdas em mercados derivativos. Enquanto isso, o valor dos empréstimos bancários a mercados emergentes caiu de US$ 410 bilhões em 2007 para US$ 167 bilhões. Em 2009, o montante pode alcançar somente a marca de US$60 bilhões, de acordo com o Instituto Internacional de Finanças

Reduzindo os impactos da crise

Na maioria dos países em desenvolvimento, os indicadores macroeconômicos, inclusive o acúmulo de reservas, melhoraram nos últimos cinco anos. Esses países têm condições de adotar políticas fiscais e monetárias mais expansivas, de acordo com o trabalho.
O estudo aponta para a necessidade de unir esforços internacionais, com a criação de uma nova regulação para o sistema financeiro, incorporando mecanismos de contabilidade periódica com o intuito de corrigir a natureza do mercado em produzir, ciclicamente, ascensões e quedas. Entre as reformas sugeridas, estão a criação de uma reserva global com recursos expandidos, que promova liquidez aos países em desenvolvimento.
Outra sugestão é que o FMI (Fundo Monetário Internacional) seja reformado e tenha papel central na coordenação de políticas macroeconômicas globais, contanto que os empréstimos não estejam condicionados a contrapartidas que fadiguem os governos durante o pagamento.Assim, países que passarem por crises temporárias – mesmo com políticas econômicas fortes – poderão contar com apoio financeiro rápido para solucionar problemas.

Fonte : PNUD

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